sexta-feira, 27 de março de 2015

Terra Cabocla no CIC

Nesse sábado (28) tem estreia do filme TERRA CABOCLA, de Márcia Paraíso e Ralf Tambke, no Cinema do CIC. O documentário de 82 minutos mostra a a resistência da cultura cabocla 100 anos após a Guerra do Contestado.

O projeto foi contemplado no edital da Fundação Catarinense de Cultura. A estreia acontecerá no sábado, dia 28 de março, às 20h no Cinema do CIC. A entrada é gratuita.

Confira abaixo mais informações sobre o filme.

Passados cem anos de uma guerra de extermínio da população tradicional da região do Planalto Catarinense - a Guerra do Contestado - a beleza, a intensidade e a fé que se traduz na força de resistência cultural do povo Caboclo, o representante original da população de Santa Catarina. O documentário Terra Cabocla, que será lançado dia 28 de março no cinema do CIC, em Florianópolis, apresenta a Guerra do Contestado dando visibilidade à população cabocla. A voz, os costumes, a cultura, a religiosidade dos caboclos – e, especialmente, das mulheres caboclas – montadas paralelamente com depoimentos de pesquisadores que têm se dedicado à temática do Contestado, revelando o quanto o tema é pouco compreendido e pouco discutido, como uma opção política de silenciamento que se manteve, até os dias atuais.

Dirigido por Marcia Paraiso e Ralf Tambke – que assinam também pesquisa, roteiro e fotografia, respectivamente - o filme de 82 minutos percorreu a região do Planalto Catarinense buscando registrar nas antigas comunidades chamadas “redutos santos”, a raiz cabocla que se mantém viva, a partir da força mobilizadora de algumas lideranças locais. A questão da luta pela terra, o preconceito e a forte desigualdade social que mantém a região com o menor índice de desenvolvimento humano no estado de Santa Catarina, ainda é reflexo da guerra e do descaso do poder público. O predomínio da monocultura – do pínus, do eucalipto e da maçã – com sua geração de subempregos e trabalhos temporários, as empresas estrangeiras, a ausência de boas estradas e o abandono total de todo patrimônio histórico relacionado ao Contestado – cemitérios, crematórios, ferrovia, construções – expõem a forma de apagamento de uma história de luta feroz por resistência.

Abraçando e emoldurando “terra cabocla”, a fé e o amor pelo monge – seja ele João Maria ou José Maria – não importa. A semente da luta pela terra e a compreensão da riqueza que está na vida natural e seus frutos, assim permanece, perpetuando-se por gerações.

Recomendado à todos aqueles que querem entender a Guerra do Contestado além dos dois parágrafos dos livros didáticos.

Dois estados em um

De um lado um estado rico, com indústrias, agroindústrias e uma pujante economia impulsionada também pelo sucesso e crescimento da agricultura familiar. No Planalto Catarinense, o contraste: o emprego temporário, seja na colheita da maçã ou na extração do pínus, mantendo, anos a fio, gerações sempre a margem – da terra, da educação, do consumo. Nos acampamentos sem terra a marca está no rosto da maioria – o traço caboclo, daqueles que, originalmente, pertenciam àquele território e, pós guerra, pós os inúmeros projetos de colonização européia e gaúcha, foram empurrados para a periferia urbana favelizada e tentam, com as ocupações, via movimentos sociais organizados, retornar a origem e reocupar a terra que lhes foi tirada e negada.

A família Palhano, no município de Taquaruçu, lugar conhecido como Cidade Santa, é um exemplo de anos de silêncio e quietude, ilhados e empurrados pra periferia, em meio à terra “gringa” - dos italianos e alemães que chegaram na região no pós guerra. A fé em São João Maria está presente em figuras como Lili Palhano e sua “reza de rendedoura” aprendida com a tia-avó, ou na rusticidade das orações e rituais de recomendações de almas e batizado nas águas bentas pelo monge João Maria, liderados por Ezanir Prates. Na zona rural de Lebon Régis, a família Belli mantém a tradição de rezar o terço caboclo, que mistura palavras de guerra e religiosidade.

TERRA CABOCLA revela toda a força e riqueza de uma cultura que resiste e se renova, na legião de seguidores da fé em São João Maria, e naqueles que acreditam ainda em um modelo de vida que rompe com o sistema de acumulação de bens e riquezas. Após o lançamento em Florianópolis, Terra Cabocla parte para as exibições itinerantes por toda a região do Planalto Catarinense, com ênfase nas comunidades que colaboraram e se envolveram na realização do documentário. Para Marcia Paraiso, que fez a pesquisa do filme e divide a direção do documentário com Ralf Tambke, a realização do documentário foi como mergulhar em uma história apagada, silenciada. “Estudei na escola na época da ditadura militar e, na cartilha de história, tínhamos um capítulo sobre a Guerra de Canudos e 1 parágrafo sobre a Guerra do Contestado. Ou seja, não entendi a guerra, nem mesmo superficialmente. Vim morar há 11 anos em Santa Catarina e nunca, jamais tinha ouvido falar sobre o povo caboclo catarinense, mas abria os jornais, conversava com pessoas e o que chegava para mim era o tanto que esse estado é italiano, é alemão, é polaco, é branco, é europeu. Mas quando convivemos com as populações no campo, percebemos o quanto a cultura cabocla foi incorporada pelos imigrantes europeus e não ao contrário. E o quanto essa cultura resistiu, está viva, mesmo com todo o genocídio praticado contra esse povo. O Terra Cabocla é uma tentativa de dar visibilidade a cultura cabocla que taí, com toda a sua força, mas que não é visível para todos. E não há muito esforço para valorizar ou dar visibilidade aos caboclos.”

Equipe técnica:
roteiro, pesquisa e produção – Marcia Paraiso
direção – Marcia Paraiso e Ralf Tambke
direção de fotografia – Ralf Tambke
câmera – Clóvis Ghiorzi
som direto – Juliana Baratieri e Gustavo Aguiar
montagem – Glauco Broering
trilha original – Luiz Gayotto
edição de som – Breno Furtado
mixagem – Alexandre Jardim


Trailer do documentário "Terra Cabocla" from Plural Filmes on Vimeo.

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